[MÚSICA] [MÚSICA] No módulo anterior, vimos algumas das maneiras nas quais os videogames podem romper fronteiras. O seu posicionamento no contexto social, a sua permeabilidade no mundo das artes, os videogames passaram a ocupar importante espaço na cultura contemporânea. Nesse módulo, vamos nos dedicar à introdução de alguns conceitos avançados, o que deve facilitar o entendimento da aplicação metodológica que será vista mais adiante. Vamos começar pela estética. Pro filósofo francês Luc Ferry, o entendimento da estética passa pela compreensão do que poderia ser chamado simplesmente de gosto. [MÚSICA] [MÚSICA] Segundo o pensamento do autor, as relações estabelecidas entre a sociedade e as obras de arte teriam sofrido, ao longo do tempo, retraimento. A obra contemporânea seria então aquela mais fortemente dependente da interpretação individual do fruidor. Por exemplo, no período antigo a obra podia ser considerada como microcosmo. Pra fora dessa obra, existiria critério objetivo do que seria o belo na antiguidade. Já no modernismo, a obra só passa a ganhar sentido se fizer referência a uma subjetividade. Atualmente no que diz respeito à contemporaneidade artística, temos a expressão da individualidade: o artista, ao invés de seguir regras específicas de movimento, ou se dedicar a critério estabelecido do que seria o belo, cria mundo próprio através de sua obra. Esse mundo não é estabelecido como universo comum, mas sim como uma visão individual, a qual temos permissão de experimentar, fruir. Essa ideia da criação de mundo, que Ferry atribui ao artista, é especialmente condizente quando vamos falar de obras que propõem a construção de espaços virtuais, como é o caso dos videogames. Resumindo, se o gosto na antiguidade socrática era baseado numa ideia de belo harmônico e ordenado, o que vemos é que esse conceito não mais rege a construção das obras de arte contemporâneas. A apreciação estética passou a se fundamentar muito mais na experiência proposta pela obra do que pela perfeição da sua realização técnica. Para Ferry, a história da estética ainda pode ser vista como a história da subjetividade. A visão e representação de mundo divinal se retiraram pra dar lugar ao palpável e humano, ao multifacetado. Nós teríamos conquistado uma autonomia do sensível. Nesse momento, deixa de existir a verdade pela verdade. O que existe é a construção de mosaico de pontos de vistas diversificados, antagonistas. No final do século XX, na política, na sociedade democrática e na arte, não há mais espaço para as vanguardas ou para as elites estéticas do século XIX orientadas por uma linha ideológica estabelecidada consenso O que passa a ter importância, nessa nova construção artística, é a figura do sujeito autêntico, muitas vezes contraditório, e sua relação com o mundo que o cerca. Por isso ocorre o retraimento. O foco temático, que já foi a representação do divino, da verdade absoluta, do engajamento político, fecha-se no sujeito. Esse sujeito, ao interpretar a sua própria história e propagá-la para os outros, compreende melhor a si mesmo e ao seu papel social. Vale dizer que essa autonomia do sujeito só foi possível graças às mudanças proporcionadas pela popularização dos saberes técnicos, pelo domínio das ferramentas. Se na antiguidade o ofício do artista era apreendido por meio de demoradas observações meio a uma cadeia hierárquica, que ia do pupilo ao mestre, apadrinhado por mecenas da igreja ou da nobreza, atualmente a informação pra formação do artista pode vir das mais diversas fontes. A experiência pessoal não pode ser mensurada. E embora a formação estrutural e acadêmica das artes ainda influencie o repertório artístico, o artista pode se formar nas ruas, na indústria ou mesmo de modo autodidata. No que diz respeito aos artistas digitais, essa democratização de saberes trouxe consigo a demanda da inclusão digital. É impossível desfrutar das informações ilimitadas disponíveis nas redes, sem que antes haja a alfabetização dentro desse mundo virtual. Mundo onde forma e conteúdo dificilmente se distinguem e no qual se torna claro o dilema da complexidade abordado pelo pensamento de Edgar Morin, que veremos no vídeo a seguir. [MÚSICA] [MÚSICA]